
As cores e suas limitações
Em entrevista, professor da PUC-Rio fala sobre a presença do Daltonismo na sua rotina e os desafios na educação brasileira

Sendo um distúrbio presente em 8% da população mundial, onde 7% são homens, o Daltonismo é conhecido por interferir nos seus portadores a percepção das cores. Também chamado de discromatopsia ou discromopsia, sua principal característica é a dificuldade de distinguir o vermelho e o verde e, com menos frequência, o azul e o amarelo. De maneira mais anatômica, pode-se explicar que cada cor do arco-íris corresponde a um comprimento diferente de onda de luz. Quando refletida ou emitida por um corpo, ela alcança o olho, atravessa uma lente, o cristalino, e é projetada na retina, uma região no fundo do olho que capta os estímulos luminosos, transforma em impulsos elétricos e os transmite para o cérebro através do nervo ótico. A causa do daltonismo, portanto, é uma alteração no pigmento dos cones, ou a ausência dessas células fotorreceptoras. O daltonismo ainda é uma condição que não tem cura e nem tratamento específico, mas ser um portador não impede uma vida considerada normal, apesar de, especificamente no Brasil, haver certas limitações para quem possui do distúrbio e má compreensão por parte de não-portadores.
Em entrevista para a CROMOS, Lenivaldo Gomes, professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, fala a respeito do seu daltonismo e como ele pode ter sido presente nas suas escolhas. Lenivaldo é formado em Letras pela UERJ e atualmente ministra disciplinas de Teoria da Comunicação, Literatura Brasileira e Semiologia na PUC
Qual é o seu tipo de daltonismo?
Tenho dificuldade em distinguir o vermelho e o verde, logo todas as cores que tem vermelho e verde podem ser problema para mim.
Você se lembra quando descobriu o daltonismo? Ou sempre soube por ser genético?
Descobri o daltonismo quando estava na escola, por volta de treze anos, no antigo ginásio. Eu sou desse tempo. Risos.
Qual a maior dificuldade por ser daltônico?
A minhas dificuldades são quando tenho de escolher roupas para mim ou para dar de presentes e estou desacompanhado. Sempre peço ajuda às vendedoras ou alguma cliente, já que o daltonismo é recessivo para o sexo feminino. Outra grande dificuldade acontece na hora de renovar a carteira de motorista, mas sempre passo nos testes suplementares.

Como o daltonismo afeta a sua vida acadêmica?
MInha vida acadêmica foi pouco afetada pelo meu daltonismo. Lembro da minha passagem pelos três primeiros semestres do curso de teatro na Unirio, o qual abandonei. E no primeiro e no segundo graus quando os mapas e os gráficos eram coloridos e eu tinha dificuldade em identificar as relações nos gráficos e nos mapas.
Teve alguma situação na faculdade, seja enquanto aluno ou professor, que você foi discriminado por conta do daltonismo?
Lenivaldo Gomes, professor de Comunicação
Social da PUC-Rio (Foto: Arquivo Pessoal)
Na vida adulta nunca me vi discriminado por conta do daltonismo. Acho graça com o espanto e a curiosidade dos alunos quando digo que sou daltônico. Eles ficam pedindo para eu identificar as cores em redor. Então pergunto para eles se eu fosse uma pessoa com outra dificuldade, por exemplo, sem um dos membros, se eles ficariam fazendo testes comigo. No entanto, não me sinto mal com essas situações. Acho divertido. Diferente de quando eu era criança e as pessoas ou as outras crianças riam de mim porque eu não sabia ver cores. Era ruim, porque eu me sentia burro, ao não saber uma coisa tão simples que todo mundo sabia, até mesmo as crianças muito mais novas do que eu. E era um conhecimento que não dependia de nenhum raciocínio lógico. Aí era ruim.
Você acha que a educação infantil brasileira tem suporte para crianças com o daltonismo?
A educação infantil não tem nenhum suporte, o que é prejudicial para as crianças daltônicas. Nesse período escolar, a criança, que não sabe que é daltônica, pode se sentir burra em relação às outras. E aí pode ocorrer o estigma já que e os professores, outros adultos e as crianças, acham graça e até ridículo que alguém possa não saber identificar cores. É comparável a um adulto não saber distinguir as formas geométricas (triângulo, círculo, quadrado).
Na educação superior, de modo geral, os daltônicos já sabem dessa limitação e, no meu caso pelo menos, lidam bem com essa característica. Apesar de eu ter tido alguns constrangimentos, quando fiz alguns períodos do Curso de Teatro, na UNIRIO, e tinha de usar tintas nas aulas de artes plásticas e nas aulas de cenário. Como eu já havia terminado o curso de letras, desisti e fui para o mestrado em letras.
Após as perguntas, Lenivaldo ainda acrescentou que foi crucial pensar nessa limitação e como ela pode ter direcionado suas escolhas e, até mesmo, ter o obrigado a desenvolver outras habilidades para compensar o daltonismo. O professor tem, por exemplo, uma memória excelente para guardar detalhes de cenas e de enredos no cinema, no teatro e na vida. Além disso, o entrevistado falou sobre a preocupação a respeito da sinalização de trânsito e como, muitas vezes, torna-se complicado para mobilidade dos portadores do daltonismo. A discussão para mudar a sinalização dos semáforos para formas geométricas ao invés de cores, é posta em debate há pelo menos 8 anos através do projeto de Lei 4937 proposto por Fernanda Gabeira (PV/RJ). O projeto acabou sendo arquivado em 2011.
Brenda França - Postado em 10/12/2017 17:55
Foto: Divulgação
